Como lidar com o luto e o sentimento de saudade em meio ao dia das mães
- Lia Soares
- 8 de mai. de 2022
- 5 min de leitura

O luto relacionado à perda de uma mãe é provavelmente um dos processos mais longos e dolorosos na vida de uma pessoa. Independente da fase que o ser humano esteja, ninguém está preparado para enfrentar emocionalmente essa fase.
A mãe tem um papel fundamental na vida do filho, seja ele uma criança, adolescente ou até mesmo um adulto com a sua jornada formada. Quando falamos do elo materno logo nos remetemos a segurança, amor e o cuidado que recebemos.
É bem verdade que a figura da mãe transcende qualquer tipo de amor que o ser humano possa viver na terra, pois é nela em que depositamos nossas maiores expectativas que dificilmente serão frustradas.
Não existe uma fórmula para lidar com a perda de uma mãe, mas o indivíduo pode tomar algumas medidas para atravessar essa fase tão desafiadora que a vida, em algum determinado momento, vai nos fazer passar.

Conversamos com com Elaine de Tomy, psicanalista e presidente do Instituto Revoar para entender melhor como enfrentar esse momento:
Lia Soares - Como familiares e amigos pedem apoiar uma pessoa que perdeu uma mãe?
Elaine Tomy - Perder uma mãe é perder um elo de ligação muito forte, de apego carinho, de afago, de fala. A maneira como os familiares podem ajudar é podendo estar ali para dar suporte. Sendo ouvinte, estando presente, mandando mensagens, convidando para sair de casa, fazer companhia, respeitar o tempo da pessoa. Evitar frases como: você ainda está sentindo isso? A sua mãe não iria querer te ver assim, vamos reaja! Isso só dificulta ainda mais e a pessoa se sente incompreendida naquela dor.
LS - Como conversar com uma criança que perdeu a mãe?
Elaine Tomy - Nessa pandemia a necessidade de conversar sobre perdas ficou ainda mais evidente. E a gente precisa preparar as crianças para falar sobre isso em ciclos de vida e morte. Muitas vezes, as crianças ficam na ilusão de que a pessoa vai voltar, de que está apenas dormindo, ou viajando. É muito importante evitar dizer que “a sua mãe virou uma estrelinha”, “Papai do céu levou ela”, ou “ Deus precisou dela”, porque isso de alguma forma pode afetar a imaginação da criança ao acreditar que Deus levou e gerar questionamentos. A gente precisa falar abertamente, com sinceridade, ainda que pendente da idade é preciso ir explicando aos poucos. Permitir que a criança participe da cerimônia de despedida, vá ao cemitério é uma forma de assimilação. O ideal é sempre comunicar de forma clara e que a pessoa não irá voltar. Não precisa entrar em detalhes desnecessários, mas é importante destacar a realidade e que aquela pessoa não irá mais voltar.
LS - Existe um tempo determinado para durar o luto?
Elaine Tomy - O luto não tem um tempo determinado. Ele é individual, subjetivo, cada pessoa sente de uma maneira e de uma forma diferente. A gente sempre lê sobre como o primeiro ano de luto é muito difícil, que as primeiras vezes que você vai fazer algo sem aquela pessoa... fica muito claro que, com o passar do tempo, tudo vai depender de pessoa para pessoa, como ela está lidando. Se ela tem uma rede de apoio, se recebe ajuda profissional. Isso depende de vários fatores, mas isso não determina quanto tempo cada pessoa vai viver o luto.
LS - Como identificar que a tristeza é do luto ou uma depressão?
Elaine Tomy - Muitas vezes a pessoa enlutada pode ter sintomas de adoecimento, mas não é doença. O luto pode gerar tensão, dores no corpo, tristeza, baixa da imunidade. Mas como a gente diferencia a tristeza do luto com a depressão? A depressão é algo corriqueiro, ela não dá trégua, ela é insistente. No luto, é comum ver as oscilações. Uma hora a pessoas está bem, outra hora não está. Quando perceber que está há mais de 15 dias em um estado de tristeza profunda, irritabilidade, alteração de sono, de apetite, e muitas vezes a pessoa não consegue ver esperança em relação ao futuro, isso ininterruptamente, isso já levanta a questão de procurar ajuda.
LS - Existe luto tardio? Elaine Tomy - Existem vários tipos de luto. O luto natural, o luto traumático, o luto antecipatório, o luto coletivo, o luto não reconhecido e também o luto adiado. Esse luto adiado é caracterizado pela ausência de reações que normalmente a pessoa expressam. De alguma forma, a pessoa não se dá a liberdade de sofrer a perda, vive a questão da negação, e muitas vezes não expressa o sentimento de pesar. Então esse luto fica guardado, então com o tempo esse sentimento será acessado e pode ser atrás de outro tipo de perda ou ruptura que a pessoa passa na vida, e vem com uma intensidade muito maior. O luto nunca deixa de ser vivido. É melhor viver o luto do que viver de luto.
LS - Já ouvi muitos relatos de pessoas que perderam a mãe que fica um sentimento de estar sozinho, de sentir-se uma árvore que teve suas raízes arrancadas. Inclusive eu passei por esse sentimento ao perder minha Mãe há 3 anos atrás. É um sentimento normal? Como lhe dar com esse tipo de sentimento?
Elaine Tomy - A gente ouve muitos relatos de filhos que perderam suas mães, que se sentem sem norte, que já não se sentem a mesma pessoa. E a maneira de lidar com isso é trazer significados do legado que sua mãe deixou para você. Sempre falar dela, reverenciar tudo aquilo que ela ensinou, e deixar que ela continue viva em você através da sua memória e da vida que você está construindo. Se houver necessidade ter um acompanhamento de grupo, nós temos um grupo de amparo emocional – Gaer – aqui do Instituto Revoar que agora em maio teremos vagas abertas para acompanhamento. Se ela permite e se abre possibilidade para conversar sobre, ela abre a possibilidade de se reorganizar suas emoções. Todo esse trabalho é exercido pela Rede Memorial Fortaleza, no qual o Instituto Revoar faz parte, e nós temos esse imenso carinho por cada relato, por cada pessoa que consegue dar continuidade a sua vida.
LS - Existe algum processo que a pessoa de luto possa realizar para superar sem traumas o luto?
O que vai caracterizar se o luto foi traumático ou não, foi a forma como aconteceu a morte, o tipo de elo que a pessoa tinha com essa pessoa, se foi algo repentino e inesperado, ou que havia muitas pendencias emocionais que havia para ser resolvido entre as pessoas. Ou um elo de amor muito forte.
É importante não reprimir os sentimentos, mas reconhecer que o luto é real e que ele precisa ser vivido.
“Viva o processo do luto e não o compare com outras pessoas, cada um vai sentir e expressar suas emoções de forma diferente. Cada filho pode ter uma maneira diferente de lidar com esse momento tão desafiador que é se adaptar a viver sem a presença da mãe. Ter uma rede de apoio é fundamental, estar perto de amigos e familiares que você se sente compreendido faz toda diferença. A espiritualidade pode ser um aliado e entender mais sobre o que é o luto, que não é uma doença, mas que muitas vezes pode ser confundido como um adoecimento, pondera Elaine.
Sobre o Instituto Revoar
O Instituto Revoar, braço social da Rede Memorial Fortaleza. Revoar vem do significado tornar a voar, voltar voando, que é associado a leveza e descoberta, e simbolicamente, ajuda as pessoas a se renovarem e se reconectar com o mundo novamente.
Para mais informações acesse www.institutorevoar.com
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